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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Por favor, não solte a minha mão

Tudo novo e impressionante. Abraços, beijos, carinhos, admirações. Cada reencontro reservava um dia inesquecível, daqueles que nos tortura a vida inteira. Abraçar é o ato de dividir minha alegria com a dela; abrir os braços quer dizer, bem vinda à minha vida. Não restou nenhuma foto daqueles dias, nenhuma que possa ser exposta ao alcance dos olhos, e tentar talvez reviver aqueles momentos.

No livro de cantares das escrituras sagradas há uma palavra que expressa o sentimento do parceiro quando ama: Ahavá. É o que sinto quando estou com ela. Ahavá é uma palavra hebraica que promulga uma vontade imponderável de estar junto, incontrolável, inexpressível; só há o desejo, que só se farta ao lado.

Hoje lembrei da ultima vez juntos, lembrei do que disse Vinicius de Morais, quando falava que vale a pena viver ao lado de alguém que é, o nosso primeiro e ultimo pensamento do dia.

Não carecia entender, nunca quis, não carecia de palavras; bastava vê-la resfolegante, nem tanto; apenas afagando, ou mirando meus olhos; apenas ali, comigo, respirando baixinho.

Vi ela chorar, sorrir, gritar que me ama no meio da rua, pude em poucos dias conhecê-la bem de perto, como quem sonda o coração. Um coração que desejei entregar o meu à pureza e deixar ser cuidado, cuidar.

Fizemos planos, quando se ama faz-se planos. Visitar a Europa, ter três filhos, ter um cachorro da raça labrador, ler livros juntos, ouvir musica, dançar, cantar, dormir, se espreguiçar. “Te darei meu coração em troca de um tesouro, se me deres em troca o teu coração”. “Vivo um amor pelo qual vale a pena morrer”.

A ultima vez a vi sorrindo, estávamos juntos. Ela estava indo embora, precisava ir. Seus princípios não permitiam que ela permanecesse neste lugar, e o medo de perder a cabeça na guilhotina não permite o amor. De malas feitas, me avisou que estava indo, e talvez não voltasse. Fiquei com ela, e vi o filme na mente, dos poucos dias juntos, e a intensidade com que tudo se desdobrou. Até que segurei sua mão, estava fria, ela se distanciou e olhou pra trás, como que quisesse voltar, e de mãos dadas ambos olhamos pra lados distintos, ela disse “estou indo”, eu concordei com sua ida, mas o coração gritava: por favor, não solte minha mão.

(Mateus Alcantara)

7 comentários:

  1. Choray.
    Grande Mateus Octávio! Sempre avassalador. Ótimo texto, ótimo blog.

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  2. Uau Mateus, parabéns, não conhecia esse seu lado... ótimo texto...

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  3. nossa que lindo , omg , adorei aqui S2
    to seguindo , se puder de uma passadinha no nosso blog S2
    beijos

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  4. Alguns dias são feitos de ilusões e argumentos, outros caminhos são feitos de momentos harmonizados de desafios e ondas, que levam e trás...a teimosia pode fazer alguém voltar no final da tarde e contruir novos castelos na areia do mar... a escolha sábia é o sol, que ao longe se despede e vai dormir...mas que nao deixa de aquecer um amor inexequível.
    Lindo texto Mateus, Deus preserve sempre a sua sensibilidade. Bjos!!

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  5. "eu concordei com sua ida, mas o coração gritava: por favor, não solte minha mão."

    Muito lindo,senti um dejá-vu por um momento

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